Com distritão votos serão completamente perdidos, avalia cientista político

Giro de Noticias - 11/08/2017 - 07:00


O distritão, sistema eleitoral no qual cada estado representa um distrito e os candidatos mais votados de cada distrito são automaticamente eleitos, foi aprovado nesta quarta-feira (10) na comissão especial que discute a reforma política na Câmara dos Deputados. A proposição ainda será apreciada, junto com outros itens, no plenário e no Senado, mas já é envolta em polêmicas.

Apesar de acabar com os “puxadores de voto” – no sistema atual, o proporcional, os votos obtidos pela legenda acabam elegendo candidatos da coligação – o distritão é questionado por favorecer nomes que já estão em evidência, e com isso, incentivando reeleições, por exemplo.

“O distritão, a meu ver, é uma proposta que pode diminuir drasticamente o papel dos partidos políticos nos processos eleitorais. Isso porque ele desativa a sua função representativa, na medida em que se elegem os mais votados individualmente. Com o distritão os votos dessa ampla maioria de eleitores serão completamente perdidos”, disse Paulo Fábio Dantas, cientista político e pesquisador de ciências políticas da Universidade Federal da Bahia. Para Dantas, o distritão é uma estratégia da elite política, que vem sofrendo com a Lava Jato. “Ele é subproduto da 'faxina" que vem sendo receitada.

Mas embora compreensível essa estratégia traz mais problemas do que soluções”, disse. Sobre a votação na Câmara dos Deputados, o cientista político afirmou que a proposta não é de fácil aceitação no plenário, tendo em vista que é de interesse dos deputados de grandes partidos, não coincidindo com os de siglas menores.

“A lógica é que nem sempre interessa a deputados enfraquecer o papel dos partidos. Depende do grau de influência que tenham sobre as cúpulas partidárias, e isso varia muito. Portanto, aprovar o distritão está longe de ser um passeio”, avaliou. Para o professor da Universidade Federal da Bahia e cientista político, Carlos Zacarias, a questão é política. “O que parece que está em jogo é que os parlamentares que apoiaram o golpe [impeachment de Dilma] estão tentando arrumar uma forma de livrarem suas caras diante do eleitor”, criticou.

O historiador aponta também o fato de, conforme estabelece a proposta, o novo sistema já valer para as eleições de 2018. “Parece ser casuísmo fazer reforma que vale já para a próxima eleição, porque assim uma parte desses parlamentares vai voltar mesmo com descontentamento da população”.

O poder econômico também acaba influenciando com a vigência do distritão, já que os candidatos mais ricos podem fazer uma campanha mais vultuosa e angariar mais votos. “Pelo que entendi do distritão, é uma das formas de votação que incentiva o 'mandonismo' dentro dos partidos. Temos partidos ideológicos, mas são pouquíssimos”, destaca o professor, que atribui ao modelo uma redução da “autonomia” do eleitor.

Apesar da forte defesa dentro do Congresso, Zacarias avalia que não necessariamente o distritão deve ser aprovado em plenário. “Acho que há possibilidade [de não passar]. Apesar do casuísmo, as figuras que não vão ter destaque vão votar contra”, aposta, reforçando, com as divergências, a necessidade de um período maior de discussão para concluir a reforma. “Por isso que é difícil fazer uma reforma política, está todo mundo pensando no seu próprio umbigo”.

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